Thursday, July 02, 2009

Capoeira capitalista

Dia destes um companheiro propôs reflexão sobre ter lá a Capoeira se transformado numa vergonha, a Capoeira capitalista. 

 Achei interessante a proposta de reflexão, embora a frase não se possa aplicar a toda Capoeira, mas sim a grandes porções dos estilos hoje massificados, a Angola, Regional e Contemporânea-Senzala. Sei bem que a caracterização desses estilos ainda não foi empreendida, mas, afora diversos outros itens, a simples observação das respectivas gingas, fornecerá elementos para considerá-los estilos massificados.

 Devo acrescentar aqui que massisficação em si não considero defeito. Voltando ao ponto, a Capoeira de hoje é capitalista, sim, mas qual o significado disto? Porque agora essa novidade de Capoeira capitalista? Está muito custosa, cara, a Capoeira? Estilo novo? 

 Não! Não! É capitalista não por ser cara, não por ser custosa, mas por reproduzir, timtim por timtim, aspectos fundamentais da ideologia do sistema em que vivemos que não é outro senão o nosso vigoroso sistema capitalista, com todas as suas mazelas e benesses.

 E que aspectos ideológicos são esses que a Capoeira capitalista reproduz? Por exemplo, no sistema capitalista o respeito à autoridade, à hierarquia, é necessário ao funcionamento das instituições, certo? O dono é quem define as políticas do empreendimento. 

 Pois é, o respeito aos mestres de Capoeira, instrutores, treineís, contramestres, professores, etc, encaixa-se perfeitamente nos ditames daquele respeito à hierarquia. Respeito no sentido de que um e os outros obedecem, respeito no sentido de que os supostos saberes dos de hierarquia mais alta prevalecem, necessariamente, sobre a suposta ignorância dos de hierarquia mais baixa.

 Essa história vai longe, se quisermos. Por exemplo, vez por outra são colocados alguns assuntos em votação nos grupos de Capoeira. Isto certamente que dá a eles alegre cunho democrático. Certo! E o que faz o sistema capitalista no Brasil? Mantém milhares de casas legislativas para, de maneira semelhante àquela, decidir democraticamente sobre assuntos de interesse das pessoas. 

 Para não me alongar muito, ficam aqui duas sugestões e um resumo. Que cada um procure descobrir aspectos mórbidos típicos do sistema capitalista, e verifique a presença desses aspectos nos grupos de Capoeira que conhece.

 A outra sugestão, e sei que não é fácil, é cada um colocar em prática ações não reprodutivas da ideologia do sistema, sem, contudo, bater de frente com as demais instituições apoiadoras da Capoeira e do sistema.

 O resumo é que a Capoeira da atualidade vem funcionando como fiel reprodura das relações sociais correntes na sociedade, e aqui se incluem a exploração do trabalho alheio, autoritarismos, formas de distribuição de benefícios, escamotear a divulgação de contas, descasos diversos com as pessoas, etc.

 Certamente, não é essa a Capoeira que queremos.

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